Luanda -
A República de Angola, na base da sua experiência, tem procurado ajudar os
países irmãos a debelar os conflitos que os afectam, através do diálogo e busca
pela paz, afirmou nesta terça-feira, em Luanda, o Chefe de Estado angolano,
João Lourenço.
O
Estadista angolano fez esta afirmação quando discursava no acto de
abertura da IX Conselho Consultivo Alargado do Ministério das Relações
Exteriores, no qual participam chefes das missões diplomáticas e consulares.
Na
ocasião, advogou que com a paz e estabilidade, os países em conflitos
ainda latentes passarão a dedicar todas as energias e recursos disponíveis ao
serviço exclusivo do desenvolvimento económico e social da população.
“A
região dos Grandes Lagos, que abarca um considerável número de países, é
bastante rica em recursos minerais, hídricos, florestais e terras aráveis, cujo
desenvolvimento vem sendo adiado ao longo de décadas pela instabilidade quase
permanente que ali reina”, lamentou o Presidente angolano numa referência à
situação político-militar vivida em alguns países africanos.
De
acordo com João Lourenço, as populações desses países não estão a
beneficiar do grande potencial existente, quer do ponto de vista económico,
social, quer comercial.
Disse
que, embora no Leste da República Democrática do Congo (RDC)
actuem vários grupos, abre-se hoje uma janela de oportunidade para o
acantonamento, desarmamento e reintegração dos elementos do grupo armado M23.
Com
respeito ao cessar-fogo em vigor há cerca de um mês no Leste da RDC,
o Presidente João Lourenço afirmou que “tudo deve ser feito para a
efectivação, de facto, dos passos necessários, com a urgência que o caso requer
para não se perder a janela de oportunidade que se abriu”.
Lembrou
que Angola foi vítima da invasão e ocupação de parte do seu território, por
parte do exército do antigo regime do Apartheid da África do Sul.
Perante
aquele cenário, disse, os angolanos bateram-se no terreno e venceram as
sucessivas batalhas que culminaram na batalha do Cuito Cuanavale, mas que talvez
não se tivesse alcançado a paz definitiva para Angola, a Independência da
Namíbia, a libertação de Nelson Mandela e a queda do regime do Apartheid, “se
não tivéssemos negociado e assinado os Acordos de Nova Iorque”.
“Por
isto é que a diplomacia angolana defende a resolução negociada e pacífica dos
conflitos, seja de que dimensão e envergadura forem e em qualquer continente”,
exprimiu.
Conflitos na
Europa e no Médio Oriente
João
Lourenço reconheceu que o Mundo acompanha com muita preocupação o eclodir
da guerra entre a Rússia e a Ucrânia e a anexação de territórios de um
país independente, "situação que Angola condena".
Neste
sentido, o chefe de Estado angolano apelou a um cessar-fogo imediato
e incondicional, para se criar o ambiente para o início de
negociações, com vista ao estabelecimento de uma paz duradoura e se evitar
o escalar de uma guerra que já causou a maior crise humanitária, alimentar e
energética que o mundo conhece desde o fim da II Guerra Mundial em 1945.
Para o
Estadista angolano, a guerra entre a Rússia e Ucrânia representa a maior
ameaça à paz e segurança mundiais, pelo envolvimento directo e indirecto das
maiores potências internacionais.
De
acordo com o Presidente da República, um mundo sem regras é
extremamente perigoso para todos, mesmo para os que se consideram mais fortes e
invencíveis.
Sublinhou
que todos os factos mais recentes ocorridos na arena internacional evidenciam a
urgência de se reestruturar o Conselho de Segurança das Nações Unidas,
garantindo a presença, como membros permanentes, de regiões do planeta hoje
excluídas como a África e a América Latina e do Sul, cuja voz não pode ser
negligenciada porque pode ser determinante na tomada de decisões das questões
fulcrais como a paz e a segurança, segurança alimentar, defesa do ambiente,
saúde pública e outros que têm a ver com a sobrevivência de todos a nível
global.
“Não
foram encontradas ainda soluções seguras e duradouras para as situações de
conflitos perigosos e prolongados como o da península coreana e o
israelo-palestino, cujas resoluções do Conselho de Segurança vêm sendo
desrespeitadas e ignoradas”, acrescentou.