RESCALDO DA VISITA DE ESTADO DE LULA DA SILVA A ANGOLA
Luanda - O Presidente do Brasil, Lula da Silva,
terminou, sábado, dia 27, a visita de Estado que o trouxe quinta-feira a Angola
com o selo do reforço da cooperação bilateral, inaugurada em 1980, com o Acordo
de Cooperação Económica, Científica e Técnica.
Durante a permanência do Estadista brasileiro em
Luanda, constituíram “caixa alta” o encontro privado com o seu homólogo João
Lourenço, a assinatura de acordos de cooperação, o Fórum Económico
Angola-Brasil, e o discurso que proferiu na Assembleia Nacional, em sessão
especial, todos esses eventos ocorridos na sexta-feira.
Na abertura das conversações oficiais entre delegações
dos dois países, Lula da Silva ouviu do Chefe de Estado angolano que além de
infra-estruturas, o país oferece bom ambiente de negócios e o apelo ao Brasil
para a criação de um fundo de apoio ao investimento privado nas áreas do
comércio, cultura, indústria e serviços.
João Lourenço considerou importante a promoção de um
encontro de alto nível entre a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral
(SADC) e o Mercado Comum do Sul (MERCOSUL), para analisar formas de cooperação
económica e de desenvolvimento.
Em resposta, Lula da Silva afirmou que o seu país é o
parceiro ideal para ajudar a alavancar a estratégia de diversificação da
economia angolana, sobretudo no sector da indústria alimentar e anunciou a
implementação de um plano de acção entre os dois ministérios da Agricultura.
Salientou que já está a ser desenvolvido um programa no
Vale do Cunene, com 25 acções, com o objectivo de promover o desenvolvimento
agrícola no continente africano, em particular em Angola.
Assinatura de Acordos
Outro ponto alto da visita do Estadista brasileiro
consistiu na assinatura de sete novos acordos para o reforço da cooperação
bilateral, prendendo-se um destes ao exercício de actividades profissionais de
remuneração de dependentes do pessoal diplomático, consular, militar,
administrativo e técnico das missões diplomáticas e consulares, bem como
cooperação do turismo sustentável.
Também foi rubricado o Memorando de Entendimento no
domínio da Agricultura, nomeadamente na agro-pecuária, enquanto na Saúde o acordo
de um projecto de Cooperação para o Diagnóstico e Tratamento da
Hanseníase/lepra (detecção precoce e tratamento da doença).
Houve lugar também para o acordo na área da Educação
Especial, com o projecto denominado "Escola para Todos", focado na
inclusão escolar.
Foi ainda assinado o Memorando de Entendimento entre o
Instituto Nacional de Apoio às Micro, Pequenas e Médias Empresas (INAPEM) e o
Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), virado ao
empreendedorismo e desenvolvimento inclusivo e sustentável dos pequenos
negócios em ambos os países.
Desde a assinatura do primeiro memorando, em 1977, dois
anos depois da proclamação da independência de Angola, em 1975, os acordos
entre as partes rondam os oitenta.
Após testemunhar a assinatura dos instrumentos
jurídicos, João Lourenço afirmou que o Governo angolano quer que o Brasil
aproveite Angola como “porta de entrada” para as regiões austral e
central de África, e, quer também ter o Brasil como “porta de entrada” de Angola
para a região do Mercosul.
Lula da Silva sublinhou que o seu Governo deve
trabalhar mais para mostrar, claramente, o que o empresário brasileiro pode
ganhar, investindo em Angola e o inverso para os angolanos no Brasil.
Vale do Cunene
No quadro da visita de Lula da Silva a Angola os dois
países assinaram o plano de acção, 2023/2025, no âmbito da cooperação técnica e
do desenvolvimento de regiões irrigadas e políticas de apoio à agricultura
familiar no Sul de Angola.
O plano faz parte do "Programa do Vale do
Cunene", iniciativa que vai beneficiar a população do Vale do Cunene,
região semidesértica, experiência igual vivida pela população do Vale de
São Francisco, no Brasil.
O programa responde um pedido do Presidente João
Lourenço, que orienta as autoridades dos dois países (Angola e Brasil)
a trabalharem juntas na diversificação da base produtiva agrícola naquela
região (Vale do Cunene), na senda da não dependência do petróleo como
principal produto de exportação para arrecadação de divisas.
Discurso no Parlamento
Noutro momento, discursando na Assembleia Nacional, o
presidente brasileiro considerou que com a visita a Angola, "o Brasil está
de volta a África" e exprimiu o compromisso de o seu país inaugurar uma
nova agenda robusta com Angola que sirva de modelo para outros países.
"Os nossos interesses comuns são muito mais
amplos. Buscamos um verdadeiro desenvolvimento que exige o combate à pobreza,
promoção da inclusão social, educação de qualidade e atenção à saúde das nossas
populações", assinalou.
O Presidente do Brasil sublinhou que a cooperação entre
os dois parlamentos ajudará a estreitar ainda mais a relação bilateral.
A presidente da Assembleia Nacional, Carolina
Cerqueira, disse que a visita do Presidente Lula da Silva a Angola, no seu
primeiro ano de mandato, demonstra, claramente, as suas prioridades, estima,
política de proximidade e compromisso inegociável com o desenvolvimento,
sustentabilidade e respeito ao património sociocultural.
Noutra vertente, depois de o Estadista brasileiro
elogiar o facto de a União Africana (UA) ter concedido a João Lourenço o título
de "campeão para a paz e reconciliação em África", anunciou que o
convidou para a próxima Cúpula do G20 que terá lugar no Rio de Janeiro (Brasil)
em Novembro de 2024.
Na sua opinião, será uma ocasião muito importante para
a discussão de questões como a coordenação económica e a reforma da governação
global.
Fórum Económico
No encerramento do 1º Fórum Económico Angola-Brasil, o
Presidente João Lourenço enfatizou que Angola conta com o investimento privado
directo brasileiro para transformar o potencial económico de Angola em riqueza
real, criar emprego e prosperidade.
No certame, que juntou 500 empresários, sendo 170
brasileiros, o Chefe de Estado angolano reiterou a estes o convite para
investirem destemidamente no mercado angolano.
A propósito, Lula da Silva afirmou que o Brasil não tem
noção de quantas coisas pode fazer com os países africanos.
"Nós voltamos (a África) para valer" dando
financiamento para os países africanos, e investimentos para Angola, na
qualidade de um "bom pagador", sublinhou.
Lula da Silva observou que enquanto esteve fora do
governo a China, a Índia, a Turquia e outros países investiram em África e na
América do Sul, ao passo que o seu país deixou de o fazer.
Homenagens e condecorações
Na manhã de sexta-feira o Chefe de Estado brasileiro,
Luiz Inácio Lula da Silva, homenageou o primeiro Presidente de Angola, António
Agostinho Neto.
Lula da Silva depositou uma coroa de flores no
sarcófago do herói nacional e registou, no livro de honra do Memorial,
adjacente à “Praça da República”, a sua admiração pela visão e obra de Agostinho
Neto, considerando-o "um notável político, poeta e herói".
Mais tarde o Chefe de Estado brasileiro foi condecorado
pelo seu homólogo angolano com a "Ordem António Agostinho Neto",
primeiro Presidente de Angola, a mais alta distinção do Estado.
Após a distinção, o presidente brasileiro afirmou ser
muito honroso em 50 anos de política, e aos 77 de idade receber “a ordem mais
importante de Angola”.
Na mesma cerimónia, o Presidente brasileiro condecorou
o homólogo angolano com a “Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul”, que homenageia
personalidades notáveis estrangeiras.
O Chefe de Estado angolano considerou a distinção
especial e disse recebe-la “com humildade e (…) grande regozijo”, dedicando-a
ao povo pelos sacrifícios consentidos na luta pela liberdade.
O último dia da visita, sábado, foi menos intenso, no
qual Lula da Silva manteve encontros com representantes dos aproximadamente 30
mil membros da comunidade brasileira, com antigos estudantes angolanos no seu
país e anunciou a abertura de um consulado geral em Luanda.
Foi ainda ocasião para inaugurar a galeria Ovídio de
Melo, no Instituto Guimarães Rosa/Centro Cultural Brasil-Angola, em homenagem
àquele diplomata brasileiro cuja carreira foi marcada pelo seu papel por altura
da independência de Angola, onde esteve como representante junto à
administração transitória estabelecida por Portugal, após a Revolução dos
Cravos.
O Brasil foi o primeiro país do mundo a reconhecer a
independência de Angola, proclamada a 11 de Novembro de 1975, pelo então Presidente
António Agostinho Neto.