ANGOLA APELA À MAIS INVESTIMENTO NORTE-AMERICANO NO SECTOR PRIVADO
Luanda-O Presidente
angolano, João Lourenço, defendeu uma maior aposta do investimento privado
norte-americanos no país, no quadro da parceria estratégica existente, tendo
como foco a diversificação da economia e a industrialização de Angola.
Esta posição foi expressa
em entrevista concedida à Televisão Pública de Angola (TPA) e divulgada
segunda-feira, no quadro da Cimeira Estados Unidos/África, a decorrer de 13 a
15 de Dezembro próximo, em Washington.
Na entrevista, retomada
hoje (terça-feira) pelo Jornal de Angola, o Presidente João Lourenço salientou
o facto de os investimentos dos Estados Unidos direccionados para Angola e ao
continente privilegiarem mais o sector da defesa e, sobretudo, da segurança
energética consubstanciados à produção e exploração de petróleo e gás.
"A mensagem que
levaremos à Cimeira de Washington para o Presidente Biden é de que gostaríamos
de ver maiores investimentos privados norte-americanos no país, para nos ajudar
a industrializar e diversificar a economia”, afirmou o Chefe de Estado,
reconhecendo que Angola e restantes Estados do continente africano ainda são
pouco industrializados. O Chefe de Estado
considerou "excelentes”, as relações com os Estados Unidos da América e
garantiu que Angola já realiza com "bastante seriedade”, investimentos em
infra-estruturas energéticas, para garantir a industrialização do país. Sublinhou
que com a contribuição do Governo norte-americano, o Executivo angolano está a
trabalhar para cobrir o país com energia eléctrica proveniente de fontes
limpas, com destaque para a fotovoltaica.
Referiu, também, o
empenho de construção de mais infra-estruturas na Educação e Saúde, como
prioridade do segundo mandato.
Neste aspecto, fez saber
que o Executivo vai realizar mais acções no domínio das
estradas. Resultados a médio prazo na Cimeira de Washington O
Chefe de Estado disse esperar que a Cimeira Estados Unidos/África, que em
Dezembro próximo discutirá o futuro do continente africano, num frente-a-frente
entre o Presidente Joe Biden e vários estadistas africanos, traga resultados a
médio e longo prazos e não seja apenas mais um evento. No
evento internacional, o Presidente João Lourenço promete persuadir o Governo
norte-americano a apostar, cada vez mais, em África, tendo em vista o grande
potencial do continente, nos mais variados sectores."O que vamos dizer ao
Presidente Biden é que a América deve apostar mais no nosso continente, porque
África tem um potencial económico muito grande”, referiu o Chefe de Estado,
acrescentando que com a situação da guerra na Ucrânia, é momento ideal para
começar-se a olhar com outros olhos para o continente.João Lourenço reafirmou
que Angola é contra qualquer guerra no planeta, não apenas por ser membro e
conhecedora da Carta das Nações Unidas, mas, sobretudo, porque já foi vítima de
um conflito armado que destruiu o país.
"Conhecemos bem as
consequências da guerra, tivemos o nosso país destruído, com bastantes perdas
humanas, deslocados, refugiados. Por essa razão não desejamos isso a ninguém.
As guerras só trazem desgraças. Sempre defendemos o fim imediato da guerra que
actualmente ocorre na Europa entre a Rússia e Ucrânia”, referiu o Chefe de
Estado.
Para o Presidente da
República, as autoridades dos dois lados devem sentar-se à mesa de negociações
para que o conflito seja resolvido, tão cedo quanto possível, "antes que
seja tarde demais”.Ainda sobre a guerra na Ucrânia, o Chefe de Estado disse que
o posicionamento de Angola já foi por diversas vezes manifestado publicamente
em vários fóruns internacionais, e o mesmo será, uma vez mais, reiterado na
Cimeira de Washington.Para o evento internacional, que perspectivará um melhor
futuro para o continente berço, o Chefe de Estado disse que Angola levará temas
como o seu posicionamento em relação à guerra entre a Rússia e a Ucrânia, a
crise alimentar mundial e as alterações climáticas. João
Lourenço defendeu maiores investimentos em diferentes fontes de energia
eléctrica amigas do ambiente, além das tradicionais que consomem carbono.Para
combater a crise alimentar no globo, o Presidente da República defendeu maiores
investimentos na agricultura no continente, e em particular no país.
Lembrou, a propósito, que
Angola conta com "abundantes” terras aráveis, bom clima, água, mas precisa
de capital e conhecimento tecnológico para, como o Brasil, poder exportar
produtos agrícolas para os maiores mercados de consumo do mundo. Combate
à corrupção teve a ver com a necessidade de fazer justiça O
Presidente da República, João Lourenço, destacou, durante a entrevista, que a
necessidade de se fazer justiça e de se reparar a imagem de Angola junto da
comunidade internacional foi o que lhe motivou a avançar com o combate à
corrupção e à impunidade. Recordou, a propósito,
que Angola era conhecida por duas questões negativas, concretamente a guerra
que, felizmente, ficou para trás e, agora, está a trabalhar para eliminar a
corrupção e a impunidade. "A guerra ficou resolvida. Agora, aos poucos,
estamos a resolver o problema da corrupção e da impunidade”, frisou João
Lourenço. Na entrevista, de aproximadamente uma
hora, o Presidente João Lourenço admitiu que a coragem de levar adiante o
combate à corrupção tem as suas consequências. "Há quem chegou a
interpretar que eu criei uma divisão no seio do partido, mas não foi isso que
aconteceu”, disse, afirmando que as pessoas envolvidas na corrupção não
representam uma "fatia grande” no partido. João Lourenço prosseguiu,
acrescentando, que houve quem visse nesse combate à corrupção a derrota
previsível do MPLA, o que, também, não aconteceu, como podem constatar. "O
MPLA venceu as eleições e vamos continuar a trabalhar”, frisou. "Não
podemos dizer que já não existe corrupção, porque ainda existe, mas em menor
dimensão. Porém, o desafio é grande”. "Eu
poderia ter optado por uma posição cómoda, e dar continuidade à situação que
encontrei, mas se assim o fizesse, estaria a prestar muito mau serviço ao país,
uma vez que, o dinheiro da corrupção serviria para o desenvolvimento, tendo em
conta que os recursos são sempre escassos”, realçou.
Referiu, nessa linha de
pensamento, que, por mais riquezas que um país tem, sobretudo para atender às
questões de ordem social, como a Educação e a Saúde, ou fazer investimentos em
infra-estruturas, o dinheiro nunca é suficiente. A
título de exemplo, indicou que dos activos recuperados, financeiros e não só,
foi possível arrancar com o Plano Integrado de Intervenção nos Municípios
(PIIM), com um valor de 2 mil milhões de dólares. Com este montante, o Estado
tem feito importantes investimentos, que permitem dar uma outra vida aos
municípios. Melhor ambiente de negócios O
Presidente João Lourenço reafirmou que o Executivo, sob sua liderança, está a
criar políticas no sentido de criar melhor ambiente de negócios para fortalecer
o sector privado. Disse, a esse respeito, crer que a
solução para a alta taxa de desemprego que aflige o país reside no sector
privado da economia local, "onde vamos encontrar, em definitivo, a solução
para este problema”.Referiu que o Estado continua a dar emprego, na Função
Pública, sobretudo nos sectores Social, da Educação e da Saúde. O Estado tem
realizado concursos públicos, com números elevados, mas, mesmo assim, o
emprego não pode ser encontrado apenas nestes dois sectores. "Reduz de
alguma forma o desemprego, mas não resolve”, disse João Lourenço. A
solução é haver cada vez mais empresas do sector privado, mais indústria e
fábricas, referiu.
"Precisamos de
industrializar o país. Mas quem faz a indústria é o sector privado, e a outra
forma de contribuirmos para o aumento da empregabilidade, é atrairmos o
investimento directo estrangeiro”, afirmou, adiantando que com o investimento
directo estrangeiro, "vamos diversificar a economia e, consequentemente,
dar emprego aos cidadãos”. Autarquias Locais Em
relação às eleições de 24 de Agosto, o Presidente João Lourenço fez saber, mais
uma vez, que as mesmas não foram locais nem autárquicas, mas sim gerais. Isso
significa, disse, que, ou ganhas as eleições gerais ou perdes, não contam os
resultados em cada província ou município. "Isto só contribui para, no
final das contas, determinar a sua vitória ou não”, pontualizou."Não
perdemos, talvez conseguimos menos deputados do que tem sido hábito nestas
províncias. Se temos receio de quando se instituírem as autarquias locais,
venhamos a ter maus resultados, não. O partido vai ter que lutar para ter bons
resultados em todos os municípios onde as autarquias locais tiverem lugar”,
prometeu.O Presidente da República lembrou que ainda não foi definido se as autarquias
vão se realizar nos 164 municípios ou por fases. Explicou, a propósito, que,
quando for definido, "o partido tem que lutar para ganhar com maior número
possível”.Referiu que pelo facto de ter perdido Luanda, não preocupa tanto o
seu partido, por se tratar de eleições diferentes. "Quando se realizarem
as eleições autárquicas, será obrigação do partido preocupar-se com todas
eleições autárquicas, independentemente de ser na capital ou não”, concluiu o
Presidente João Lourenço.