O Presidente em exercício da Conferência Internacional
sobre a Região dos Grandes Lagos (CIRGL), o estadista angolano, João Lourenço,
defendeu,quinta-feira (24), em Kinshasa, República Democrática do Congo (RDC),
a união entre os Estados da região, como caminho para a defesa da paz,
segurança, estabilidade política e social dos países que a integram.
O Presidente da República propôs a ideia durante o
discurso na abertura da 10ª cimeira dos Chefes de Estado e de Governo dos
países signatários do Acordo-Quadro para a Paz, Segurança e Cooperação (PSC) na
RDC e na Região, que decorreu naquela cidade.
"Na qualidade de Chefes de Estado da sub-região
dos Grandes Lagos e responsáveis de Mecanismos e Organizações signatárias do
Acordo Quadro, temos a responsabilidade de trabalhar, conjuntamente, para
defender a paz, a segurança e a estabilidade política e social dos países que a
integram, devendo assumir-nos como os principais actores na busca de soluções
construtivas para a resolução dos conflitos existentes, através da
implementação efectiva dos compromissos nacionais e regionais, assumidos no
âmbito do Acordo Quadro”, realçou.
O estadista angolano ressaltou que os ataques que vêm
sendo perpetrados por grupos terroristas no Leste da RDC e em outros países da
sub-região mostram a necessidade de se fortalecer a cooperação e coordenação
regional no campo da segurança, através da promoção de iniciativas que possam
concorrer para eliminar este mal do continente. Disse ser dentro deste esforço
que Angola tomou a iniciativa de promover a Cimeira sobre o Terrorismo e as
Mudanças Inconstitucionais em África, a ter lugar na Guiné Equatorial, de 28 a
29 de Maio. O Presidente esclareceu que este encontro tem como objectivo
reflectir à volta dos golpes de Estado e do terrorismo no continente, bem como
procurar as melhores soluções que desencorajem essas práticas.
"Por isso, aproveito este palco para apelar a
todos os Chefes de Estado presentes para participarem da Cimeira de Malabo,
pois será uma oportunidade única para nos debruçarmos à volta de um assunto que
muito preocupa a todos”, apelou.
Na ocasião, o Presidente manifestou o seu agrado em
relação aos mais recentes acontecimentos em prol da paz na região, tendo
destacado a decisão bilateral que permitiu a reabertura do posto fronteiriço de
Gatuna-Katuna. Lembrou que este acto resultou das recomendações saídas da
quarta Cimeira Quadripartida de Luanda, para a normalização das relações entre
o Uganda e o Ruanda.
"Congratulamo-nos, igualmente, com a evolução
positiva da situação na RCA, que conduziu à declaração unilateral de
cessar-fogo por parte das autoridades governamentais deste país e que abre o
caminho para a necessária implementação do roteiro de paz, vivamente aplaudido
e encorajado pela CIRGL, CEEAC e Nações Unidas”, frisou.
Ainda neste âmbito, o Presidente da CIRGL regozijou-se
com o facto de se terem desenvolvido outras acções de igual peso e importância,
que muito têm contribuído para a redução da instabilidade na Região dos Grandes
Lagos. A título de exemplo, apontou os progressos registados para a
normalização das relações entre o Ruanda e o Burundi e entre o Uganda e a
República Democrática do Congo, assim como a realização, de forma pacífica, de
eleições gerais em alguns dos países da região.
João Lourenço felicitou, por outro lado, o homólogo da
RDC, Félix Tshisekedi, pelos esforços que vem desenvolvendo para a erradicação
dos grupos rebeldes no Leste do país e da reconciliação de todas as forças
vivas da Nação congolesa, estabelecendo um clima de confiança entre os
diferentes actores políticos.
O Chefe de Estado destacou que estas acções reforçam a
ideia e a esperança de que a sub-região está a despertar para a necessidade da
construção da estabilidade e da segurança, como factores incontornáveis para
assegurar a concretização dos grandes objectivos, que passam pela redução da
pobreza e pela construção do bem-estar e prosperidade dos povos. Aqui, ressaltou
"o relevante” contributo dado pelas Comunidades Económicas Regionais, pela
União Africana, pelas Nações Unidas e outros parceiros e mecanismos de
co-operação internacionais, para a estabilização total da zona.
Entretanto, João Lourenço reconheceu, com preocupação,
as dificuldades que ainda persistem na realização de acções de desarmamento,
desmobilização, reintegração e reassentamento de ex-rebeldes na região,
"devido, às vezes, à ausência de processos de inclusão política e de
reintegração na vida social”.
"A acentuada porosidade das fronteiras dos países
que integram a Região dos Grandes Lagos e o lento progresso na demarcação das
fronteiras internacionais entre os países da região, que se devem, em parte, à
falta de recursos disponíveis para o efeito, dificultam os esforços para
mitigar esta situação”, concluiu.
Encontros
No final da cimeira, o Presidente da República, João
Lourenço, manteve encontro, em separado, com os homólogos do Uganda, África do
Sul, República Democrática do Congo e com o enviado especial da União Europeia
para os Grandes Lagos.
O Chefe de Estado angolano regressou ontem ao país.
Passagem de pasta
Outro acto que marcou a 10ª Cimeira dos Chefes de
Estado e de Governo dos países signatários do Acordo-Quadro para a Paz, Segurança
e Cooperação (PSC) na RDC e na Região foi a passagem de pasta da presidência em
exercício do Mecanismo de Supervisão Regional (ROM) do Acordo-Quadro para a
Paz, Segurança e Cooperação, entre Yoweri Museveni, do Uganda, e Félix
Tshisekedi Tshilombo, da RDC.
Marcaram presença na cimeira, além dos Chefes de Estado
e de Governo dos países signatários do acordo, o Secretário-Geral Adjunto das
Nações Unidas, Jean Pierre Lacroix, o presidente da Comissão da União Africana,
Moussa FakiMahamat, o enviado especial da União Europeia, Bernard Quintin, e
o secretário executivo da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral
(SADC), Elias Mpedi Magosi.