Luanda - O Presidente da República, João Lourenço,
exortou, este sábado, todos os angolanos a reflectirem sobre os erros do
passado, visando a consolidação da paz em Angola, alcançada em Abril de 2002.
A exortação foi feita durante um jantar em alusão aos
20 anos de paz e reconcilação nacional, a assinala-se a 4 de Abril, organizado
no Palácio Presidencial, com a participação de altas figuras do Estado angolano
e do corpo diplomático acreditado no país, entre outros convidados.
No seu discurso, João Lourenço disse que depois de
Angola ter vivido uma guerra permanente durante os 27 anos após a
independencia, a paz foi finalmente estabelecida a 4 de Abril de 2002, tendo se
passado já exactos 20 anos.
Sublinhou que ao longo da sua existência como povo que
sempre resistiu à ocupação colonial portuguesa, as duas maiores conquistas
alcançadas pelos angolanos foram, sem dúvida, a independência e a paz e
reconciliação nacional, importantes marcos da história recente de Angola.
Acrescentou que se por um lado o colonialismo português
foi responsável por escravizar os angolanos no seu próprio país ou nas
americas, para onde foram deportados em condições desumanas, foi também
responsável pela continuada pilhagem das suas riquezas, com as quais foram
erguidas as capitais europeias.
O estadista angolano salientou que a guerra
pós-independência foi responsável pela morte e mutilação de milhares de
angolanos e também pela destruição das infra-estruturas nacionais, bem como
pelo atraso do desenvolvimento económico e social do país.
O longo conflito armado, disse, deixou sequelas
profundas, comprometeu o futuro de várias gerações de angolanos e adiou o sonho
de construir uma Angola próspera e desenvolvida.
Para o Presidente, ultrapassados estes nomentos de
triste memória, os angolanos devem ficar hoje focados na construção da paz e
reconciliação nacional, no aprofundamento da democracia e no desenvolvimento
económico e social do país.
Neste sentido, afirmou que para que haja paz e
reconciliação nacional entre os angolanos, é preciso reconhecer
publicamente que no passado foram feitas coisas condenáveis que não se devem
repetir.
João Lourenço fez um apelo para que todas as
divergências e contradições entre os diferentes actores políticos e sociais
sejam dirimidas por via do diálogo aberto e transparente ou dos órgãos
competentes da justiça, se existirem fortes indícios de violação da lei.
Disse ser dentro deste espírito de reconciliação que o
Chefe de Estado angolano abriu o caminho que levou à exumação, transladação e
enterro definitivo, na sua terra natal, do ex-líder do maior partido da
oposição angolana (UNITA), Jonas Savimbi.
“É igualmente dentro deste mesmo espírito que foi
criada a Comissão para a Implementação do Plano de Reconciliação em Memórias
das Vítimas dos Conflitos Políticos (CIVICOP) ocorridos no país depois da
indepedência nacional até 4 de Abril de 2002.
Disse que os trabalhos desta comissão, que congrega,
para além de representantes do Executivo, também representantes de partidos
políticos e da sociedade civil, dão sinais bastante encorajadores pelos
primeiros resultados alcançados.
“Compreendemos que este processo, que já resultou na
entrega de algumas ossadas, é complexo e demorado, mas o Estado assegura que
vai continuar engajado os anos que forem necessários para confortar o maior
número possível de famílias ansiosas de dar um funeral condigno aos seus
entes-queridos como mandam as tradições africanas e a nossa cultura cristã”,
garantiu.
O Presidente da República disse ainda que a manutenção
da paz só é possível se todos os actores políticos tiverem o mesmo entendimento
sobre a reconciliação nacional e a necessidade da tolerância política entre os
diferentes partidos e seus militantes e apoiantes.
A este respeito, chamou a atenção para a aproximação
das eleições gerais de Agosto do corrente ano e, com elas, as actividades de
pré-campanha e campanha política que lhes são enerentes, onde haverá o máximo
de liberdade nos marcos da lei e da ordem pública, mas também a necessidade da
máxima contenção entre apoiantes de um e de outro partidos concorrentes.
Lembrou, a propósito, que os partidos políticos têm o
dever de educar os seus militantes e apoiantes no sentido de se comportarem com
civismo e patriotismo, alertando que a violência contra as pessoas e os bens
públicos e privados não será tolerada pela sociedade angolana.