Luanda - Os restos mortais do ex-Presidente, José
Eduardo dos Santos, já repousam num jazigo, especialmente construído para o
efeito, na Praça da República, na capital do país, Luanda.
A derradeira homenagem a José Eduardo dos Santos, que
faleceu aos 79 anos, a 8 de Julho último, em Barcelona, Reino de Espanha, por
doença, foi marcada por um cenário de tristeza, comoção e lágrimas,
principalmente dos populares que acorreram desde muito cedo ao local.
Na presença do Presidente da República, João Lourenço,
e de outros Chefes de Estado, a acto contemplou a leitura de mensagens do
Estado angolano, da família, do MPLA e da Fundação Eduardo dos Santos (FESA),
bem como um culto ecuménico e música de dois grupos corais das igrejas Católica
e Metodista.
O ministro de Estado e Chefe da Casa Civil do
Presidente da República, Adão de Almeida, enalteceu o percurso heróico e
glorioso de José Eduardo dos Santos", que dedicou toda a sua vida às mais
nobres e anseios do povo angolano".
"O país impôs-lhe que, desde muito cedo, abdicasse
do "eu", para se dedicar ao "nós", a nossa terra, à sua
terra, ao nosso povo, ao seu povo", exprimiu.
Segundo o ministro de Estado, José Eduardo dos Santos
desempenhou com brio invulgar e dedicação plena o alto cargo de Presidente da
República entre Setembro de 1979 e Setembro de 2017.
Notou que, sob a sua liderança, o país realizou muitas
das suas mais estruturantes reformas nos domínios constitucional, político,
económico e social.
"Foi no seu consulado que se operaram, por
exemplo, a transição constitucional, a transição para o multipartidarismo,
democracia pluralista e o Estado de Direito, a transição para a economia de
mercado e a transição para a consagração e o reconhecimento dos direitos,
liberdades e garantias fundamentais dos cidadãos, com destaque para abolição da
pena de morte", expressou.
Pai amigo e dedicado à família
Joseane os Santos, filha de José Eduardo dos Santos, em
representação da família, não se conteve em lágrimas, lembrando que o seu
progenitor foi "um Pai amigo e chefe de família exemplar, adoptando, sem
hesitar, uma Nação inteira".
Lembrou que a música e o desporto sempre foram as
verdadeiras paixões de José Eduardo dos Santos.
"Era muito bom poder acordar ao som da sua viola,
ouvindo-lhe cantar. A música sempre será o nosso ponto de encontro. As melodias
de Francó e as palavras de Gilberto Gil sempre serão um pouco de você",
disse Joseana dos Santos.
Homem com trajectória de grande dimensão
Na mensagem que dirigiu à família e aos presentes, a
vice-presidente do MPLA, Luísa Damião, considerou o presidente Emérito do seu
partido como "um homem com uma trajectória de grande dimensão e um
militante comprometido com os ideais do partido.
O nosso presidente Emérito, um filho com várias facetas
da vida, marcou com tinta indelével a qualidade do bem-fazer sem olhar a
sacrifícios e sempre disponível à dor do nosso povo, até aí, dedicou toda a sua
vida", frisou.
Já o histórico político do MPLA, Roberto de Almeida, em
nome do Comité de Honra do seu partido, lembrou que José Eduardo dos Santos
entregou-se ao fundo na libertação total da Namíbia e do Zimbabwe e na
erradicação do apartheid na África do Sul, "dando cumprimento integral à
orientação do Presidente Agostinho Neto, segundo a qual "na Namíbia, no
Zimbabwe e na África do Sul está a continuação da nossa luta".
Este gesto foi reconhecido, durante a cerimónia
fúnebre, pelo antigo Chefe de Estado da Namíbia, San Nujumoa, que agradeceu a
hospitalidade do povo angolano durante a luta de liberação do seu país.
"Zė Du" - um dos mais sonantes do seu
chamado
O director geral da Fundação Eduardo dos Santos (FESA),
João de Deus, observou que José Eduardo dos Santos, a quem o povo angolano
chama carinhosamente de "Zė Dú", foi um dos mais sonantes de todos os
chamados, "não só porque fez uma geração, mas porque assim mereceu ser
tratado, dada a sua natureza de humildade, seriedade, trajectória e forma
simples de ser".
Ao ler a mensagem de condolências, o director geral da
FESA não se conteve e, repentinamente, perdeu os sentidos, causando comoção e
preocupação a todos presentes.
João de Deus foi prontamente socorrido pela equipa de
emergência e, neste momento, encontra-se internado numa das clínicas de Luanda.
Presenças notáveis
Na cerimónia, aberta ao público, estiveram presentes os
Chefes de Estado da República de Portugal e da África do Sul, respectivamente,
Marcelo Rebelo de Sousa e Cyril Ramaphosa.
Entre os presentes destaca-se também os Presidentes da
República Democrática do Congo, Félix Tshisekedi, do Congo, Denis Sassou
Nguesso, de Moçambique, Filipe Nyusi, da Guiné-Bissau, Umaro Sissoko Embaló, de
Cabo Verde, José Maria Pereira das Neves, de São Tomé e Príncipe, Carlos Vila
Nova, e do Zimbabwe, Emmerson Mnangagwa.
A Tanzânia esteve representada pelo antigo Presidente,
Jakaya Mrisho Kikwete, Cuba pelo vice-primeiro ministro, Ricardo Cabrisas Ruíz,
e a Arábia Saudita pelo ministro da Administração do Território, Sidi Brahim
Salem.
José Eduardo dos Santos morreu aos 79 anos, no passado
dia 8 de Julho, num hospital de Barcelona, onde estava internado desde 23 de
Junho, após uma paragem cardíaca.
O antigo Presidente da República chegou ao cargo, em
Setembro de 1979, na sequência da morte de António Agostinho Neto, primeiro
Presidente de Angola, e esteve em funções durante 38 anos (até 2017), e
sucedeu-lhe João Lourenço.